quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pastagem para ovinos e caprinos 8

Prof. Dr. Danilo Gusmão de Quadros

8.0 Comportamento ingestivo de ovinos e caprinos


A estrutura de uma pastagem é tida como a disposição horizontal e vertical em que a forragem apresenta-se aos animais (CARVALHO et al., 2001a). Segundo LACA e LEMAIRE (2000), a estrutura da pastagem é a distribuição e o arranjamento das partes das plantas acima do solo. Ela é variável com o genótipo, idade da planta, época do ano e manejo, influenciando diretamente o comportamento de ingestão de forragem (STOBBS, 1973).

Considera-se que a ingestão de MS pelos animais seja responsável por 60 a 90% das variações no seu desempenho, enquanto de 10 a 40% pode ser explicado pela digestibilidade da forragem (MERTENS, 1994). O alimento apreendido em cada bocado proferido é considerado uma unidade do consumo. A ingestão de MS dos animais em uma pastagem pode ser representada pelo produto da massa do bocado (g MS/bocado) x taxa de bocado (nº bocados/dia) x tempo de pastejo (horas/dia) (GORDON e LASCANO, 1993).

A altura das plantas e as densidades de folhas e colmos têm efeitos diretos no tamanho de bocado, principal componente da ingestão (FORBES, 1988). Os colmos, em plantas cespitosas tropicais, acumulam-se facilmente na fase de maior crescimento e na época de florescimento, tornando parte das folhas inacessível aos animais.

MINSON (1990) revisou os valores de consumo voluntário por ovinos alimentados com gramíneas tropicais e encontrou média de 46 g de MS/kg PV0,75, valor esse bem inferior aos 80 g de MS/ kg PV0,75, considerado como o consumo normal de uma forragem padrão.

HODGSON (1981) encontrou tamanho e taxa de bocado para ovinos pastejando azevém perene de 0,80-1,47 mg MO/kg PV e 38,7-46,7 bocados/minuto, respectivamente.

Todavia, em pastagens tropicais a massa de bocado normalmente é menor, o que pode levar a eventual compensação da taxa de bocado, em curto prazo, e do tempo de pastejo, em longo prazo, visando a não redução do consumo, apesar dessas estratégias apresentarem limite fisiológico.

PENNING et al. (1986) observaram maiores ganhos em cordeiros gêmeos e ovelhas quando aumentaram a disponibilidade de forragem. Com a redução da altura das plantas forrageiras abaixo de 9 cm, a taxa de bocados aumentou significativamente, chegando a 90 bocados/min. Quando a massa de forragem diminui, o tempo de pastejo aumenta em decorrência de período mais longo de procura e seleção de alimentos pelos ovinos e caprinos. Sendo a escassez de forragem muito grande, o animal prefere não pastejar, pois o gasto de energia para a procura de comida será muito grande, em uma situação de extrema fome (HODGSON, 1982).

Pretende-se obter, com o manejo racional de pastagens, uma boa produção de MS e alta densidade de folhas, proporcionando grande massa de bocados. Assim, os animais passariam menos tempo pastejando e mais tempo descansando, ruminando, reproduzindo, ou em atividades sociais, pois já atingiram o ponto de satisfação alimentar.

Conforme GORDON (2000), plantas com folhas muito grandes e largas podem alterar o comportamento ingestivo e reduzir o consumo por animais com área de boca pequena, como ovinos e caprinos. Esse efeito é conhecido como “efeito espagueti”, no qual o animal tem que manipular a folha para a formação do bolo na mandíbula, atrasando a mudança de estação alimentar (CARVALHO et al., 2001a).

O tempo de pastejo é uma estratégia de regulação da ingestão a longo prazo, em relação ao ajuste da taxa de bocado para a manutenção da saciedade alimentar, quando há variações na massa de bocado (GORDON e LASCANO, 1993). Em ovinos, o tempo de pastejo pode variar de 4,5 a 14,5 h/dia, concentrando-se em uma faixa que vai de 7 a 11 h/dia (ARNOLD, 1981).

A profundidade do bocado está positivamente relacionada à altura das plantas forrageiras, todavia negativamente à densidade de forragem, notadamente de folhas (GORDON e LASCANO, 1993). BARTHRAM e GRANT (1984) sugeriram que a profundidade de bocado pode ser limitada pela relutância do animal em adentrar os colmos. A inacessibilidade das folhas verdes pelos colmos maduros é acentuada em espécies forrageiras cespitosas tropicais mal manejadas ou em florescimento. A proporção de tecidos e os constituintes químicos influenciam a força necessária à apreensão e digestão pelos microrganismos do rúmen (EVANS, 1967), além de, provavelmente, a velocidade de redução do tamanho das partículas. O processo de seleção de forragem pelos animais prioriza a qualidade da forragem. Portanto, os atributos químicos, físicos e comportamentais são igualmente importantes.

Fonte: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM PRODUÇÃO ANIMAL
PROGRAMA DE OVINO-CAPRINOCULTURA DA BAHIA

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