Prof. Dr. Danilo Gusmão de Quadros
Planta forrageiras para ovinos e caprinos
Na produção ovina e caprina em pastagens, a tomada de decisão na escolha da planta forrageira adequada às condições de clima e solo locais, além do manejo que lhe será imposto, deve ser criteriosa, pois a área implantada deve ter uma longa vida útil.
Os pesquisadores da área de forragicultura vêm trabalhando incessantemente na seleção de genótipos tolerantes as adversidades ambientais e com características agronômicas favoráveis para a produção animal. Não existe “o melhor capim”. Cada planta forrageira apresenta certas qualidade e limitações, as quais devem ser comparadas para seleção no ecossistema desejado, considerando os fatores abióticos e bióticos.
Na Tabela 1 são apresentadas características agronômicas de algumas gramíneas forrageiras tropicais utilizadas para ovinos e caprinos.
ARAÚJO FILHO et al. (1999) recomendaram os capins: andropógon (Andropogongayanus), buffel grass (Cenchrus ciliaris), gramão (Cynodon dactylon var. Aridus cv. Calie) e corrente (Urochloa mosambicensis) para a ovino-caprinocultura no semi-árido nordestino.
As gramíneas forrageiras tropicais mais freqüentemente utilizadas na formação de pastagens para ovinos são espécies e cultivares de Brachiaria spp., Cynodon spp., Paspalum spp., Pennisetum spp., Chloris gayana, Cenchrus ciliaris, Digitaria decumbens e Panicum maximum (SILVA SOBRINHO, 2001). Apesar do potencial de produção da maioria das gramíneas forrageiras tropicais, a taxa de lotação média é restrita em decorrência do grave problema de degradação das pastagens, situação que ocorre em 60-80% das áreas destinadas à produção de ruminantes, atingindo ao correspondente a 5 ovelhas/ha.
Gramíneas forrageiras
Brachiaria spp.
Os capins dessa espécie possuem diversos hábitos de crescimento e características. É um gênero importante que alicerçou o crescimento da pecuária bovina nacional. Hoje, ocupam cerca de 75% dos 100 milhões de hectares de pastagens cultivadas, principalmente as espécies B. decumbens cv. Basilisk (capim-braquiária) e B.
brizantha cv. Marandu (capim-marandu).
As outras espécies, de representatividade menor, são: B. humidicola (quicuio-da-Amazônia ou humidícola), B. mutica (capim-angola
ou capim-fino), B. ruziziensis e B. dictioneura. Pastagens podem albergar um fungo (Pithomyces chartarum), cosmopolita, considerado saprófito em vegetais, que se desenvolve em temperaturas na faixa de 18 a 27 ºC e umidade relativa alta (96%). Produz uma micotoxina hepatotóxica (esporodesmina) diretamente ligada a esporulação do fungo, capaz de provocar processos cutâneos do tipo fotossensibilizante, associado à síndrome do eczema facial. Há comprometimento do aparelho ocular e da pele, principalmente nas regiões mais expostas à incidência dos raios solares, com lesões localizadas freqüentemente na região periorbital, conjuntiva ocular e palpebral, podendo levar a cegueira irreversível, alterações na região lateral da cabeça, acompanhadas de lacrimejamento e, às vezes, edemas que podem atingir, inclusive, as orelhas (ALMEIDA et al., 2000). Esses sintomas estão ligados às disfunções e lesões hepáticas, com redução da capacidade do fígado de transporte e excreção de filoeritrina, substância fotodinâmica formada pela degradação da clorofila no trato gastrintestinal e que passa para circulação periférica, acumulando-se na pele.
Devido a irradiação solar, ocorre uma reação de calor, que se manifesta por: eritema (pele com cor avermelhada) seguido de edema (inchaço), prurido (coceira), exsudação (liberação de líquidos) e necrose (morte da pele) com mumificação da pele (VIANA e BORGES, 2002).
SIQUEIRA (1988) relatou o problema de fotossensibilização em ovinos pastejando Brachiaria decumbens e B. ruziziensis, mas nenhum caso com B. humidicola. As classes mais afetadas são as ovelhas paridas e animais jovens mantidos exclusivamente em pastagem de Brachiaria spp. (SANTOS et al., 1999). Para contornar parcialmente o problema de fotossensibilização dos animais em áreas de B. decumbens, NEIVA e
CÂNDIDO (2003) utilizaram o pastejo noturno e maior rebaixamento das plantas, criando condições desfavoráveis ao desenvolvimento da doença. SANTOS et al. (1999) e SANTOS et al. (2002) comentaram que, além dos problemas de fotossensibilização, capins do gênero Brachiaria não têm sido recomendados para ovinos devido ao baixo valor nutritivo. Pequenos ruminantes têm maiores requerimentos para manutenção por unidade de peso metabólico do que as espécies de peso corporal mais alto, necessitando de alta qualidade da forragem para
alcançar bom desempenho (LEITE e VASCONCELOS, 2000). Entretanto, os problemas de fotossensibilidade podem ocorrer em outros capins, como relatado para capim-coastcross por VIANA e BORGES (2002).
Panicum maximum
O capim mais conhecido dessa espécie é o capim colonião, introduzido no período colonial. Hoje, existem vários ecótipos e cultivares. Apresentam boa dispersão no Brasil, hábito de crescimento ereto, perfilhando em forma de touceira. Atualmente, os cultivares Tanzânia e aruana vêm se destacando na criação de ovinos e caprinos. As folhas decumbentes e a boa produção de MS, quando bem adubado, do capim-
Tanzânia são fatores favoráveis a manutenção de alta taxa de lotação na época chuvosa do ano. Há ocorrência de alguns problemas da dificuldade de manejo devido à presença de colmos rijos, causando até cegueira nos animais, além do baixo valor nutritivo da forragem residual e quando exageradamente crescido. Deve-se ressaltar que a ingestão de forragem por pequenos ruminantes é favorecida pela por estrutura com folhas mais curtas e estreitas, em grande densidade.
Grande densidade de perfilhos, folhas mais finas e tenras, melhor distribuição anual de forragem e médio porte são algumas características que fazem do capim-aruana uma planta forrageira muito promissora para ovino-caprinocultura. No estado de São Paulo, o cv. Tanzânia produziu 25,6 toneladas de folhas/ha (JANK e COSTA, 1990), enquanto o cv. Aruana apresentou produções variando entre 18 a 21 toneladas de MS/ha/ano (SANTOS et al., 1999).
O capim-aruana foi introduzido com muito sucesso na Bahia, com manejo simples, persistente, alta produção e boa qualidade de forragem, sendo base no sistema de pastejo rotacionado de alguns empreendimentos (Foto 1).
Outras variedades e cultivares dessa espécie, como gatton panic, green panic, vencedor e massai também podem ser utilizados, pois apresentam porte médio e boa produção e qualidade de forragem, se bem manejados. A propagação é feita por sementes, facilitando sua adoção.
Pelo hábito de pastejo de ovinos e caprinos mantidos em áreas exclusivas de gramíneas, não se recomenda a escolha de plantas de porte muito alto, como alguns cultivares dessa espécie (mombaça, tobiatã, colonião).
Cynodon spp.
As espécies de Cynodon spp. são bastante utilizadas na criação ovina e caprina, por apresentarem boas características nutricionais e produtivas, apesar do custo de implantação ser relativamente alto, pois são plantados por estolões (mudas vegetativas). Nesse grupo se encontram os capins Tifton-85, coast-cross, estrela-africana, Tifton-68, florico, florona e florakirk, entre outros. Também possuem boas características para conservação de forragem para época seca do ano como feno, silagem pré-secada, silagem ou mesmo pasto reservado.
O plantio deve ser realizado por mudas sadias com gemas maduras. São utilizadas cerca de 3 toneladas de mudas para plantar 1 hectare.
Cenchrus ciliaris
O capim-buffel apresenta de crescimento ereto, com boa densidade de perfilhos. No sertão nordestino, a introdução de gramíneas perenes (principalmente o capim-buffel) trás vantagens óbvias, não só pela manutenção de maior quantidade e qualidade de forragem no período seco, como também pelo rápido rebrote da pastagem no início das águas. Essa planta forrageira possui uma grande variabilidade genética, devido as suas variedades serem advindas de linhagens e hibridações utilizando-se materiais com diferentes características agronômicas, sendo portanto mais ou menos preferidas pelos ruminantes. A produção de MS/ha, segundo a literatura, nas variedades Americano, Biloela, Malopo, Gaydah e CNPC-30 atingiram mais de 10, 5, 8, 3 e 8 toneladas, respectivamente.
Andropogon gayanus
Cultivares: Planaltina e Baeti
Planta de crescimento ereto e porte alto. Folhas de coloração verde escura, macias e bastante pilosas. As folhas possuem um estreitamento característico na base da lâmina. A inflorescência é composta de rácemos. Possui ótima tolerância a solos ácidos e de baixa fertilidade. Tolera bem a seca e possui alta resistência à cigarrinha-das-pastagens. Propagado por sementes, que, por apresentarem aristas e cerdas envolventes, dificultam a operação de semeadura mecânica. Utilizado em pastagens, principalmente nas regiões de cerrados. O manejo do capim-andropógon com ovinos deve seguir um rigoroso ajuste da oferta de forragem e período de pastejo, evitando o crescimento exagerado e queda acentuada do valor nutritivo, gerando grandes quantidades de material morto.
Fonte: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM PRODUÇÃO ANIMAL
PROGRAMA DE OVINO-CAPRINOCULTURA DA BAHIA
muiito bom !
ResponderExcluirbem interessante o trabalho de vocês, estao aprovados !
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