sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Pastagem para ovinos e caprinos 9

Prof. Dr. Danilo Gusmão de Quadros

9.0 Influência das pastagens nas verminoses


Em condições naturais, antes da domesticação, o equilíbrio parasito/hospedeiro permitia a tolerância dos animais a essa enfermidade. Com a domesticação, e conseqüente aumento no número de animais por área, houve desequilíbrio em favor dos parasitos, fazendo com que o principal problema sanitário dos rebanhos ovinos e caprinos seja a verminose (SANTIAGO et al., 1976; VIEIRA et al., 1997; GASTALDI, 1999; AMARANTE, 2001).

As verminoses dos caprinos e ovinos são causadas por parasitos pertencentes às classes Nematoda, Cestoda e Trematoda. Os nematódeos são vermes redondos, que podem se localizar no tubo digestivo (gastrintestinais) ou nos pulmões (pulmonares).

Considerando os cestódeos, são vermes chatos em forma de fita e, finalmente, os trematódeos, vermes chatos em forma de folha (COSTA, 2003). Dentre eles, os nematódeos apresentam-se em maior número e distribuição geográfica, sendo responsáveis pelos maiores prejuízos econômicos. O controle das nematodioses faz-se necessário, caso contrário, a criação tornar-se inviável economicamente, devido à baixa produtividade, à alta mortalidade dos animais e as despesas com mão-de-obra e anti-parasitários (AMARANTE, 2001). Esses problemas
se agravam devido às maiores taxas de lotação, associadas às condições climáticas propícias ao desenvolvimento de larvas, havendo a necessidade de conhecer a dinâmica da população dos nematódeos nas pastagens e nos animais.

Os nematódeos gastrintestinais mais encontrados em caprinos no semi-árido nordestino foram: Haemonchus contortus (abomaso), Trichostrongylus colubriformes (intestino delgado), Oesophagostomum columbianum (intestino grosso) e Strongyloides
papillosus (intestino delgado) (VIEIRA et al., 1997).

A presença de larvas infectantes nas pastagens é importante nos estudos epidemiológicos das nematodioses dos ruminantes, podendo fornecer um índice do risco de exposição dos animais mantidos em pastagens (MARTIN et al., 1990). As observações de GASTALDI (1999) indicaram que, contagens de OPG (ovos por grama de fezes) mais altas, coincidiram com as maiores concentrações de larvas infectantes na pastagem.

As variáveis climáticas que interferem no aumento populacional de nematódeos no ambiente são: temperatura, precipitação pluvial, umidade relativa do ar, evapotranspiração, radiação solar e temperatura do solo (geotermometria), sendo que, dentre esses, a precipitação é a mais importante (ROSA, 1996).

Estudos de epidemiologia de helmintos têm demonstrado que a medicação antihelmíntica nem sempre apresenta a eficácia esperada quando os animais permanecem em pastagens contaminadas. Segundo LAMBERT e GUERIN (1989), o controle das nematodioses passa invariavelmente pela adoção das práticas de manejo que visam a redução da população de larvas infectantes na pastagem. Em pastagens cujas estruturas permitem a penetração de raios solares nas bases das plantas, o número de larvas infectantes provavelmente será reduzido (SANTOS et al., 2002). As alternativas para se reduzir à contaminação das pastagens incluem a rotação dos piquetes, a aração do solo,
o pastejo alternado ou integrado (misto) com outras espécies animais, a aplicação de produtos químicos no solo e o controle biológico (COSTA, 2003).

A idade, o estado nutricional, a ordem do parto, estado fisiológico, raça, espécies de nematódeos, manejo dos animais, época de nascimento e de desmame, superpopulação e a introdução de animais novos no rebanho são fatores que contribuem para aumentar a população de parasitos no organismo do animal (ROSA, 1996). O estado nutricional interfere no grau de defesa imunológica do organismo. O cobre, fornecido através de
cápsulas, contribuiu para redução da reinfecção por H. contortus em ovinos lanados (GONÇALVES e ECHEVARRIA, 2004).


Alia-se ao problema da verminose, a existência, cada vez maior, de resistência a antihelmínticos, principalmente em se tratando do H. contortus (AMARANTE, 2001). Haemonchus spp. foram mais prevalentes na comunidade resistente a todos os anti helmínticos, tanto em ovinos, quanto em caprinos, criados em várias regiões do Ceará, seguido de Trichostrongylus spp. e Oesophagostomum spp. (MELO et al., 2003).

A ocorrência, severidade e o controle das doenças causadas por nematódeos estão diretamente correlacionados a disponibilidade de larvas infectantes na pastagem, que é influenciada pelo nível de contaminação de ovos, condições sazonais e o manejo do pastejo (ANDERSON, 1982). Segundo esse autor, sob condições adequadas, cerca de 20% dos ovos de nematódeos gastrintestinais depositados nas fezes dos animais completam o ciclo como adultos. Todavia, na seca, apenas 1% completa sua fase livre.

GASTALDI (1999), pesquisando a ocorrência de nematódeos gastrintestinais em ovinos pastejando associadamente à bovinos e eqüinos, encontrou maiores quantidades de larvas infectantes recuperadas coincidindo com a época de maior precipitação pluvial, sendo os principais gêneros Haemonchus spp. e Trichostrongylus spp..

As larvas infectantes conseguem sobreviver a uma variação maior de ambiente, em relação aos estádios pré-infectivos, que utilizam as fezes para proteção. O número de larvas infectantes na forragem representa somente uma pequena proporção do total de larvas na fase livre no pasto. Não surpreendente, o número de larvas disponíveis pode crescer mesmo algumas semanas após a retirada dos animais da pastagem, o que torna preocupante o tempo de descanso de 3 a 6 semanas, no sistema rotacionado (ANDERSON, 1982).

Considerando os aspectos parasitológicos, ainda não há evidências concretas de como a estrutura da pastagem influencia a sobrevivência de ovos e larvas de nematódeos gastrintestinais na pastagem. O arranjo espacial da comunidade de plantas que permite a insolação nas partes basais pode alterar o ecossistema e provocar a morte de muitos ovos e larvas (SANTOS et al., 2002). MARTIN NIETO et al. (2003) encontraram
diferenças no grau de infecção de ovelhas mantidas em pastagens formadas com capins diferentes, contudo não foi evidente a influência do hábito de crescimento da planta forrageira na contagem do OPG.

Existem algumas práticas de manejo das pastagens e medidas de controle integrados que podem ser utilizadas no intuito de reduzir os prejuízos dos nematódeos nos animais.

As gramíneas forrageiras cespitosas, pastejadas intermitentemente, com altura póspastejo baixa, pode contribuir para a redução da infecção dos animais (SANTOS et al., 2002). Esse aspecto se deve a maior insolação nos primeiros 15 cm do relvado, faixa de altura que geralmente a maioria das larvas se localizam nas plantas (MISRA e RUPRAH, 1972).

Outra prática que pode ser adotada, é a colocação dos animais na pastagem após a seca do orvalho. Nessa ocasião, as larvas infectantes, que necessitam de íntimo contato com a umidade, provavelmente migram para baixo, numa altura com menor possibilidade de serem ingeridas pelo animal. Entretanto, o tempo de pastejo diário pode ser reduzido, pois as primeiras horas da manhã são preferidas para essa atividade (NEIVA e
CÂNDIDO, 2003).

No trabalho de QUADROS (2004), não foi encontrada diferença quanto à concentração de larvas infectantes, entre os capins estrela-africana (prostrado), andropógon e Tanzânia (eretos), manejados com ovinos (Figura 3).

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Ovinos Santa Inês mantidos em pastagens dos capins Tanzânia, estrela-africana e andropógon não apresentaram diferenças na contagem de OPG, com média de 1228.

Aparentemente, a utilização de capins cespitosos visando redução da contaminação de nematódeos gastrintestinais em ovinos per si não foi eficaz, quando manejados sob lotação contínua. CUNHA et al. (2000) e SANTOS et al. (2002) alertaram para a autoinfestação, quando os animais permanecem mais de 5 dias no mesmo piquete, ingerindo larvas oriundas de ovos de seus próprios parasitos.

VLASSOF (1982) observou que 80% das larvas infectantes estiveram localizadas no primeiro terço na estrutura da pastagem. Considerando a localização das larvas infectantes de nematódeos em pastagens dos cvs. Tanzânia e mombaça de P. maximum, sob lotação caprina/ovina, o rebaixamento a 15 cm, visando reduzir a quantidade de larvas pela ação da radiação solar, pode ser viável. Entretanto, há possibilidade de
resultar em uma maior ingestão de larvas à medida que a altura do capim diminui.

Ademais, essa altura pode provocar prejuízos na rebrota e persistência das plantas, principalmente em solos de baixa fertilidade (QUADROS, 2004). A interferência do comportamento alimentar no número de larvas infectantes ingeridas é uma hipótese para explicar as diferenças na intensidade de infecção por nematódeos entre espécies e raças (HOSTE et al., 2001).

Em pastagens naturais, a alta habilidade de caprinos selecionarem uma dieta naturalmente com maior variedade botânica, com predominância de plantas com porte arbustivo e arbóreo, os predispõem menos intensamente a ingestão de larvas infectantes, em relação aos ovinos, que são mais dependentes das gramíneas, maior fonte de larvas (HOSTE et al., 2001). Em pastagens exclusivas de gramíneas, o padrão de infecção
encontrado por QUADROS (2004) demonstrou que os caprinos foram mais infectados do que os ovinos, talvez pelo menor convívio com esses parasitos em sua evolução em pastagens naturais.

Fonte: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM PRODUÇÃO ANIMAL
PROGRAMA DE OVINO-CAPRINOCULTURA DA BAHIA

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