terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pastagem para ovinos e caprinos 6

Prof. Dr. Danilo Gusmão de Quadros

Utilização de pastagens tropicais para a criação de caprinos e ovinos


Em geral, a utilização de pastagens naturais, principalmente a Caatinga, para criação de caprinos e ovinos, apresentam baixa capacidade de suporte (1 ovelha/ha), em contraste as artificiais, formadas de gramíneas, cujo potencial de produção pode suportar mais de 25 ovelhas/ha (SANTOS et al., 2002). A introdução de gramíneas melhorou significativamente a capacidade de suporte de caatinga raleada e rebaixada, pois apenas 7-10% dos 4000 kg MS/ha/ano da fitomassa produzida da vegetação é considerado forragem consumível, o restante é inaceitável e de baixo valor nutritivo (ARAÚJO FILHO, 1992; ARAÚJO FILHO e CARVALHO, 1997).

COOP (1982) classificou as pastagens intensificadas como aquelas de alta produção de MS/ha, boa distribuição estacional e alta taxa de lotação. Entretanto, é necessário manejo racional para alcançar bom nível de utilização da forragem produzida e de produtividade animal.

Os ovinos exercem maior seletividade pelas gramíneas, enquanto os caprinos comparativamente apresentam preferência alimentar por espécies vegetais de porte arbustivos (DEVENDRA, 2002).


Ao testarem doze capins tropicais para a criação de ovinos, BIANCHINI et al. (1999) notaram que os capins aruanã (P. maximum), hemartria (Hemarthria altissima) e coast-cross (C. dactilon) foram os mais viáveis para a criação desses animais. Nesse experimento, não ficou evidente a influência do porte, do hábito de crescimento, bem como do comprimento e da largura das folhas na aceitabilidade das plantas.

A taxa de lotação e o percentual de aproveitamento da forragem em uma pastagem influenciam diretamente o índice de contaminação por nematódeos, considerado o maior entrave da produção de pequenos ruminantes nos trópicos. Com maior número de animais/ha, ocorre a diminuição das áreas de rejeição de forragem ao redor das fezes, onde há maior concentração das larvas infectantes (GORDON, 2000).

Ao comparar o manejo de desfolha do capim-florakirk (Cynodon spp.) a 5, 10, 15 e 20 cm de altura, sob lotação contínua e carga variável de ovinos, CARNEVALLI et al. (2000) não obtiveram diferenças significativas no consumo de forragem (404 g MS/animal/dia), no ganho de peso por animal (41 g/animal/dia) e por área (3,4 kg/ha/dia). Todavia, esses autores afirmaram que a desfolha a 5 cm necessita de manejo cauteloso,
pois pode provocar degradação da pastagem.

O desempenho de cordeiros observados por MACEDO et al. (2000) foi de 106 g, em pastagens de capim coast-cross, sob lotação fixa de 20 animais/ha. Entretanto, o potencial da produção de carne de pequenos ruminantes em pastagens é maior. SOARES et al. (2001) observaram taxas de ganhos de peso diários de ovelhas lanadas mestiças superiores a 240 g no início da primavera, quando mantidas em pastagens de
capim-batatais (Paspalum notatum), demonstrando a possibilidade de elevação dos índices produtivos. GASTALDI et al. (2000) observaram acúmulo de forragem em uma pastagem de capim coast-cross, mesmo quando a mantiveram sob lotação contínua de 50 ovelhas/ha durante 90 dias, denotando altas capacidades produtivas, em áreas de boa fertilidade. Com boas condições climáticas e alta fertilidade do solo, as gramíneas tropicais apresentam alto potencial de produção (CORSI e SANTOS, 1995).

MINSON e HACKER (1995), ao avaliarem seis acessos de capim-buffel com diferentes digestibilidades e forças de cisalhamento para ovinos da raça Merino, não encontraram diferenças significativas no ganho de peso diário. Todavia, houve variação entre as estações de pastejo com média de 48,4 g/dia, considerando todos os acessos e as duas estações de pastejo. A energia para o cisalhamento foi inversamente correlacionada a digestibilidade, que, por sua vez, foi diretamente correlacionada ao desempenho dos animais.

No Estado de São Paulo, SILVA NETO (1973) utilizou pastagens de capim-pangola (D. decumbens) sob lotação contínua, com 4, 6, 8 e 10 borregos/ha, visando a produção de carne. Esse autor verificou que a maior produtividade foi alcançada na taxa de lotação mais alta. No mesmo propósito, RATTRAY (1987), ao analisar o aumento da produção de carne por hectare/ano de borregos desmamados de 280 kg, 312 kg e 346 kg, relativo às lotações de 16, 21 e 26 animais/ha, respectivamente, comentou que houve acréscimo no déficit de forragem nas estações de baixo crescimento das plantas forrageiras, com a elevação das taxas de lotação.

Ao mensurar o desempenho de caprinos da raça Cashmire em pastagens, McCALL e LAMBERT (1987) constataram variações conforme a estação do ano, podendo estacionar o crescimento ou perder peso de maio a junho, mas capazes de atingir ganhos de 70-80 g/dia e de 100-140 g/dia, no início do outono e primavera, respectivamente, nas condições australianas.

Caprinos mestiços leiteiros alimentados com 800 g/dia de feno de capim-Angola (Brachiaria mutica) e até 50% de palha de feijão, acrescido de 150 g/dia de suplemento concentrado (16% PB), ganharam cerca de 72 g/dia, demonstrando boa adaptação à dietas fibrosas (MOULIN et al., 1987).

A intensificação da produção em pastagens para a produção de caprinos e ovinos, com escolha adequada da planta forrageira, correção e adubação do solo e manejo eficiente, é importante por permitir maior produção e utilização da forragem, refletindo em maiores taxas de lotação e desempenho (ARAÚJO FILHO et al., 1999). Por outro lado, segundo NEIVA e CÂNDIDO (2003), o uso de altas lotações aumenta consideravelmente a infecção por nematódeos.

 

Fonte: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM PRODUÇÃO ANIMAL
PROGRAMA DE OVINO-CAPRINOCULTURA DA BAHIA

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