terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A SÍNDROME DA LETRA J

 

Nos últimos cinco anos tendo acompanhado inúmeros julgamento nas mais diversas exposições do Brasil.  Em alguns, por obra e graça do destino, cumpro a função de secretariar os juízes.

No início tínhamos o juiz único, absoluto, figura que centralizava as atenções.  Hoje vivemos a época das comissões, que variando de 3 a 6 magistrados, ordenam as diretrizes das raças no seu ponto mais sensível ou seja, as pistas de julgamento.

Não vou aqui analisar juízes, pois para tanto não me atrevo.  Gosto sim, e com grande dose de humor, de verificar o comportamento de criadores e expositores.

Quando adentrava no Parque de Exposições o tal juiz único, já vinha cercado por uma tropa de criadores amigos.  Quem não fizesse parte deste grupinho, iniciava seu processo de julgamento pessoal:

-“ Lá vai o amigo deles.  Desta farinha eu já provei.  Trouxe meus animais aqui só para prestigiar a Associação e já sei o resultado!”                                  (Barra do Pirahy – RJ – Junho de 82)

Algumas vezes a exaltação era tanta, que o criador se retirava do Parque, levando consigo seus animais até antes de serem julgados e ia para a fazenda curtir uma tremenda ressaca técnica.

Infelizmente deste processo alguns não escaparam e nunca mais sequer pisaram num Parque de Exposições. Com as comissões formadas, já ficaria um pouco mais difícil tecer comentários sobre um grupo de juízes.  Mas não se fizeram de rogado!

- “Neste comissão um manda, é o lider.  Os outros apenas acompanham.”

- “Comissão de três é como estouro de boiada: cada um vai pro seu lado, e o resultado sai no laço”.
(Cordeiro – RJ – Julho de 83)

Mas quem é o nosso amigo criador?  Qual o seu perfil?  Há quantos anos está no ramo, perguntaria meu vizinho?

É fácil a resposta, prezado companheiro.  É a Síndrome da Letra J.

Quando nosso amigo e jovem criador, leva pela primeira vez seus animais para uma Mostra, ele inicia com animais de sua criação na letra A.  São seus primeiros passos na difícil arte de se manejar animais, e ele já os imagina cobertos de lauréis.

Na verdade, o que ele está sofrendo agora é algo que levara dez anos aproximadamente para o posicionar junto a outros criadores mais antigos.  Até chegar à letra J, verá muita água passar na beira de seu regato e muitas considerações técnicas chocarem-se em seus ouvidos, sem aquela compreensão que marca o entendimento dos mais veteranos.

Mas não pense, prezado leitor, que ele se deixará abater.  Quanto maior seu grau de incompreensão perante os julgamentos realizados, maior sua explosão de raiva sobre os juízes na Pista.

É a tal Síndroma da Letra J.  São dez anos de provação que o jovem criador passa até estar totalmente curado desta enfermidade que, mesmo não sendo transmissível por qualquer vetor, costuma ser adquirida por osmose entre “grandes amigos” criadores.

Nem todos a sofrem, e muitos já na letra B (segundo ano de criação) costumam superar seus efeitos colaterais.  Entendem que o juiz presente a uma Exposição não busca auxiliar ou prejudicar qualquer proprietário, mas sim colocar os animais em ordem preferencial segundo um padrão racial estabelecido pelas próprias Associações de Criadores.

Estas são histórias vividas dentro das pistas de julgamento e o folcore é muito vasto, merecendo outros relatos. Costumava ouvir de um velho criador, em Caxambu(MG), que todos nós temos telhado de vidro. 
  
Portanto, se você nunca foi atacado pela Síndrome da Letra J, não se preocupe pois, afinal, o alfabeto não termina aí.

Texto adaptado. Fonte: Crônicas da Raça Mangalarga Marchador, Ricardo L. Casiuch

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